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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Elegia

Ontem eu percebi algo tão óbvio: as pessoas morrem!
Mas foi preciso tanto tempo para eu perceber isso, foi preciso acontecer tanta coisa.
Ver os chinelos escorados na parede, fazendo-me lembrar daquele jeito de caminhar, abrir o guarda-roupa e ver as blusas de botão, e sentir aquele cheiro trazer uma saudade monstro, daquelas capazes de amedrontar e entristecer qualquer ser com um pouco de sensibilidade. Andar descalço pela casa e perceber que os cômodos, juntos com o quintal, continuam do mesmo tamanho, mas agora, sem nenhuma explicação, estão tão grandes, tão vazios. Ver a escova de dentes e não ver mais aquele sorriso, ver esse sorriso numa foto, em cima da estante, e sentir uma camada densa de tristeza, levando um arrepio pela espinha, até chegar nos olhos. Ouvir o telefone tocar, com o mesmo toque de antes, e ouvir esta voz dizendo, sem dizer, que aquela voz não mais existe (apenas dentro de você). Deparar-me com pessoas que ainda não sabiam, e sentir mais uma vez a surpresa triste. Olhar para os óculos em cima da mesa e me lembrar daquele jeito único de olhar, segurar um presente que você recebera da pessoa, e ter a certeza de que você daria tudo, para que quem estivesse presente, fosse ela, e não apenas as muitas lembranças. Passar nas ruas e avistar alguém parecido, dando-lhe outra vez a constatação... a vida é curta demais, a vida é curta demais, mas a dor e a saudade, estas são gigantes.
(Desconfio que poucas coisas no mundo são mais verdadeiras que as lembranças )

                                      Carpie Diem*


6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. o comentário que sem querer foi apagado.. rsrs

    "Desconfio que poucas coisas no mundo são mais verdadeiras que as lembranças"

    Depois disto não há o que comentar..

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  3. Fazia tempo que eu nao lia nada que me emocionasse a ponto de me fazer chorar.. vc descreveu isso tão bem que chega a dar medo...

    parabéns por usar seu dom tão direitinho
    :)

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