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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O último sonho


Tive a atenção fisgada por uma reportagem a respeito de pessoas idosas que sofrem com o abandono dos familiares e entes mais próximos, passando a viver numa solidão uníssona.
Vi o caso de um senhor que morava só, num apartamento sujo. Tinha uma vida triste, disse que não tinha mais ninguém, exceto sua esposa, a qual também não morava com ele, mas o visitava de tempos em tempos. Ela, perguntada pela repórter o porquê do abandono, respondeu que o marido a maltratava, e por isso ela o deixara. Confesso que me senti mal ao ver aquela reportagem, o ar de tristeza era maior que a bela vista que se tinha pela janela do apartamento. Fiquei tentando imaginar o teor do sofrimento daquele senhor, tão velho, tão só, sem esperança, vencido pela vida e pelo tempo, sem companhia, sem nada... Meu Deus! Imaginei se naquele homem antigo ainda restava ao menos algum sonho, foi quando a repórter fez a ele esta pergunta, e ele, sem olhar nos olhos dela, com o olhar para o nada, ficou um pouco pensativo, num silêncio longo... e passado um tempo, respondeu que sim. Confesso ter ficado surpreso, imaginei que ele tivesse a esperança de voltar ao convívio da família, dos filhos, netos, mas quando ouvi sua resposta, senti um arrepio invernal. Ele revelou que o último sonho dele era...morrer, simplesmente morrer.
Na pior das situações, seja ela qual for, há sempre um espaço para se ter um último sonho.