Sempre que eu nos
imaginava juntos, eu me via nas ruas da sua cidade, sendo levado por você a
visitar os lugares, cantos, bares, sabores e sossegos de sua terra. Você ia me
mostrando a casa onde você cresceu, a praça onde você brincava quando criança,
o banco onde deu o seu primeiro beijo, (e eu ainda sentiria uma pontinha de
ciúmes) a mercearia onde a sua mãe te mandava fazer pequenos favores, a escola
onde você iniciou os estudos, a árvore que te oferecia sombra nos dias de muito
sol, o quintal do vizinho, que era um lugar proibido, o por do sol visto do
ponto mais alto, a rua onde as crianças costumam brincar até os pais as
recolherem para tomar banho... Você ia me dizendo coisas de sua vida, enquanto
eu só conseguia te olhar, sem dar muita atenção às palavras, mas com um
semblante de desejo e carinho. Dávamos risadas, e você, ao final de algumas
delas, dizia “bons tempos aqueles”, e eu, sem nunca ter estado ali, falava
“verdade, bons tempos mesmo”, e eu me apaixonava de novo pela maneira como você
ria, e olhava para você espantado, te achando a mulher mais linda que a tua
cidade vira crescer.