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sábado, 20 de novembro de 2010


Minha poesia é um canto
de um canto do mundo que
eu desconheço, mas que sinto.

Escrevo por distração
como quem
precisa dormir.

Anoiteceu nos meus
olhos, e eu percebi
que pequenas mudanças
mudam tudo,
e que o meu coração
não mais releva o que
a sua falta revela.

Às vezes me sinto criança,
e toda criança tem o seu
lado mundo, um jeito de
quem tenta colher o horizonte,

de quem sabe dar uma volta ao redor do sol
sem precisar de 365 dias, e de quem encontra
dentro do vento, um lugar para descansar
e fica a ver a vida passeando nas
asas de uma borboleta...



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ele, que muitos já pensavam ser “um menino-homem”, nunca havia
sentido dor como aquela, mas num dia de chuva, ele se
descobriu cheio de carinho e ternura, e perguntou
para a avó se ela o deixaria fazer uma massagem
em seus pés, (que ele achava os mais bonitos do
mundo, só porque eram número trinta e quatro, pode uma coisa dessa ?)
ela, toda surpresa, disse que nunca havia recebido uma
massagem, e ele disse que não havia problema, faria
assim mesmo, pois já era um especialista no assunto
(mas na verdade,mal sabia o que estava fazendo).
Naquela tarde, ele teve a tênue impressão de que sete
décadas estavam caminhando pelas suas mãos, no mais
absoluto silêncio, e descobriu que com a ajuda das
pessoas que se ama, e com atitudes de simplicidade, é possível reinaugurar
felicidades, mesmo estando destruído por dentro, e então
sem perceber, o menino se tornou homem, numa tarde de chuva.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pela manhã tudo ficou azul
pela tarde já era um cinza,
à noite era breu, tu eu, azul e cinza.

Vestido rodado, rodado, rodado...
seria um pano de mesa?
Não sei a resposta certa
e quem é que sabe ?

É maldade abandonar seu bosque
sem antes não haver sequer me perdido,
sem ter dado tudo de mim
sem ter tido tudo de ti.

Na estrada não há mais nada, nada.
Tudo está além do meu alcance,
todos os seus nuances, e todas as
suas risadas.

Preciso parar, parar com isso
deixar a poesia de lado,
deixar de querer andar de nuvem e
de gostar do que eu gosto.

Mas a chuva canta a mesma música,
e cada pingo tem o mesmo som
quando bate no telhado, quanto bate em mim,
quando bate nas pedras, quando bate em nós.

Como fazer para abandonar
um pouco de si mesmo ?
O que fazer para parar o tempo ?

Eu vi oito décadas numa foto
3 x 4, eu vi, sem que elas tivessem
passado por mim, nem eu por elas.

Eu vi um sorriso no lugar do choro
na hora de ir embora.
Eu fui, mas sinto que fiquei,
e também trouxe ...

O passado é um barco que navega
por todo o oceano e de vez em quando
aporta no cais da nossa memória, trazendo
consigo as mais belas paisagens; gaivotas
dançando no céu, a água nos fazendo um
convite, mas ás vezes, traz dias de tempestade
tristeza e solidão.

Hoje eu descobri que não existem segredos
e tudo me veio assim, azul e cinza, azul e cinza...
 
Toda noite, por quase
a noite toda, é sempre
o mesmo caminho, a

mesma história, as
lembranças estalam
no lombo da memória.