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quarta-feira, 19 de outubro de 2011


...quarta, quinta, sexta, semana passada, naquele ano...
É o tempo que passa? Ou são as pessoas? Ou seriam os lugares?
Onde está a minha ligação com a vida? Para onde foi aquela chamada perdida?
Onde estará o meu passado?  E as portas fechadas, o que guardam? E o mar aberto, o que ele liberta?  E as crianças no parque, à tardinha? Eu já estive ali? E as minhas estradas? E entranhas? E tudo o que já foi dito aos ouvidos dos séculos?  E todos os corações que se partiram? E os casais que se amaram loucamente?
E as promessas que não foram cumpridas? E as esperas, que por causa daquelas, se deitaram em esperanças? (e nunca foram chamadas para dançar) E aqueles que nunca vieram? E o sorriso que um estranho me deu num momento de cômica ternura que compartilhamos; o que foi aquilo? Eram apenas dois animais da mesma espécie que se reconheceram, sem se conhecer?  E o bichinho de estimação que te recebia quando você chegava em casa, há quanto tempo já se foi? E aquilo que se quer fazer, mas não se pode? Quando faremos? E as pessoas que amamos, por que as amamos?  E aquelas pessoas que são a nossa personificação de paz? (são lindas, sem mais!) Por que as coisas que são feitas com sentimento e verdade possuem tanto o meu respeito, e o meu olhar? Por que sinto tanta vontade de apertar de novo aquelas mãos?  Por que eu dou gargalhada à vontade, mas quando as saudades apertam (e a vida simplesmente parece que para) eu sinto uma violenta vontade de chorar?  Por que a vida teima em destruir as minhas certezas? Eu não sei... Eu não sei. Tenho a minha forma de ver a vida, e ouvir os silêncios.Tenho o meu jeito de sentir as coisas, e hoje conheço bem a minha voz. Penso que entender é trazer o mundo para a minha linguagem, e não entendo. Às vezes eu sinto medo do tempo: quando tenho em mãos foto antiga, e no espelho, o eu de agora. Sinto medo do tempo que se alimenta de mim, da matéria prima que me faz jovem, do tempo que mesmo se decifrado fosse, ainda sim me devoraria. Tenho medo do tempo que vem enchendo minha memória, do tempo que foi embora, e do que prometeu chegar, mesmo sem dizer se traria boas novas, ou sofrimento... (tempo, por que você não dá um tempo?).
Medo do tempo que me fez crescer, e me ensinou o quanto sou pequeno. Do tempo que me faz achar, por um lado, que a vida é o pior dos inimigos, mas que por outro, é de uma infinita beleza... Às vezes eu sinto medo do tempo, mas é só às vezes, só às vezes, e já faz algum que eu não tenho nada para dizer...

3 comentários:

  1. poxa que intensidade gostei muito
    (sinto medo do tempo que se alimenta de mim, da matéria prima que me faz jovem, do tempo que mesmo se decifrado fosse, ainda sim me devoraria.) porra isso foi bonito de mais

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  2. Confuso... torvo... indeciso... cruel... sincero... carrasco... não sei como definir.

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  3. Nós é que fazemos passar. O nosso elo com a vida está primeiro em nós, ao dentro, e depois nos outros, ao lado. A chamada perdida virou mistério. O passado, uma saudade doída, às vezes. As portas fechadas aguardam nossa coragem para abri-las. O mar aberto... amar liberta. As crianças no parque à tarde, é a vida brincando num carrossel. Tudo que já foi nos aguarda um tanto melhor. Os corações partidos acreditam em remendos. Os casais fingem que passou, o amor. As promessas não cumpridas continuarão assim. Promessas são feitas para não serem cumpridas. Nosso erro é esperar. Os que nunca vieram sempre estão. Um sorrir é um jeito de amor. Por que amor? Porque amor. Aquelas pessoas são abrigo. A vida por si e só: pura incerteza.

    Nos somos ponto: de interrogação. As respostas virão vez e outra. Do nosso jeito, de outro jeito, daquele jeito. Mas virão, sim. O tempo nem sabe de si, de nós, tão pouco.

    Gostei do texto!

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