Quando criança, sempre ficava à espera do entardecer, pois era nesse horário que, no quintal da vizinha, começava o espetáculo dos pássaros. Muitos se recolhiam ao pé de jaca que lá havia, produzindo uma sonoridade que ecoava até os ouvidos do menino, e chegava até os seus sonhos, fazendo-o imaginar tantos outros mundos, outras vidas. Sentia vontade de voar também, e voava, com o sorriso, porém, ficava calado, apenas escutando toda aquela confusão sadia . Gostava também de observar o por do sol, que alaranjava os seus olhos e o fazia sentir algo que ele só descobriria anos mais tarde: o prazer e o gosto pela poesia. A poesia do dia a dia, das lembranças, angústias, sonhos, a poesia do nada...
Mas anos antes de tal descoberta, ele sentiu-se traído, pois nem perguntaram se podiam destruir e levar embora aquilo que o fazia, às tardes e manhãs, presenciar o evento que já se habituara: a sinfonia e orquestra passariniana. Simplesmente, derrubaram aquele símbolo, a moradia, o lugar onde, além dos pássaros, outros entes que voam, também costumavam pousar : as pipas, que se perdiam no imenso e no infinito, até serem capturadas pelo pé de jaca . Levou tempo para que ele se adaptasse à nova paisagem, mais ampla, mas sem sombra, mais limpa, mas sem o cheiro bom e as folhas envelhecidas no chão . Tiraram um pedaço da vista daquele menino. Os anos se passaram as lembranças não, e parece ser por isso que hoje, toda vez que ele vê uma árvore grande, ele se sente voando...
...Voando para o passado.
"Voar, voar, Subir, subir, Ir por onde for, Descer até o céu cair, Ou mudar de cor [...]" Biafra
ResponderExcluirLindo texto primo! Obrigada pelo Voo...
Obrigado digo eu, prima.
ResponderExcluiraté...
Esse menino era você! Que lindo, lindo demais!
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